domingo, 25 de setembro de 2011

0009 - ENTREVISTA COM O PROFESSOR LUIZ CARLOS MOLION - II

Professor Luiz Carlos Baldicero Molion

Possui graduação em Física pela Universidade de São Paulo (1969), PhD em Meteorologia, University of Wisconsin, Madison (1975), pós-doutorado em Hidrologia de Florestas, Institute of Hydrology, Wallingford, UK (1982) e é fellow do Wissenschftskolleg zu Berlin, Alemanha (1990). É Pesquisador Senior aposentado do INPE/MCT e atualmente Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas, professor visitante da Western Michigan University, professor de pós graduação da Universidade de Évora, Portugal. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Dinamica de Clima, atuando principalmente em variabilidade e mudanças climáticas, Nordeste do Brasil e Amazonia, e nas áreas correlatas energias renováveis, desenvolvimento regional e dessalinização de água. É membro do Grupo Gestor da Comissão de Climatologia, Organização Meteorológica Mundial (MG/CCl/WMO).

SEXTA-FEIRA, JANEIRO 08, 2010


Perguntas e respostas do Prof. Molion (2)


4 - Há interesses económicos por trás das hipóteses apresentadas por esses pesquisadores do painel climático, materializados, inclusive, pela actuação de ONGs e outras entidades de actuação mundial?

R. É difícil afirmar, actualmente, que haja interesses económicos. Alguns acham que sim, que seria uma “armação” do G7 para desacelerar o desenvolvimento dos países do segundo grupo (Brasil, Rússia, Índia e China = BRIC). O G7 é um grupo de países falidos, como a Inglaterra e Japão, que não dispõem de recursos naturais e energéticos, e sobrevive de explorar financeira e tecnicamente o resto do mundo. Nos últimos anos, prevendo a perda de sua hegemonia, que dura mais de mil anos, “aceitaram” que fosse criado o G20. Para mim, quando ouço o refrão “é preciso reduzir as emissões de carbono...”, eu o entendo como “...há que se reduzir a geração de energia eléctrica...”, para que os países subdesenvolvidos não possam se desenvolver. Isso condena a população desses países a um baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano].

Talvez seja o renascimento da velha teoria malthusiana, travestida de “conservação ambiental”, uma nova teoria “ecomalthusiana”. Outros, aproveitam para fazer disso um modus vivendi (modo de sobrevivência). Muitos cientistas, por exemplo, aceitam o aquecimento global para poderem receber verbas para seus projectos de pesquisas. E, certamente, muitos outros se aproveitam da situação e da ignorância da população leiga, e porque não dizer de grande parte dos políticos e administradores, sobre o assunto de mudanças climáticas e procuram tirar proveito em benefício próprio. É o caso do comércio de quotas de carbono (“cap and trade”), cujo objectivo certamente não é conservação ambiental. O passar do tempo mostrará os factos reais!

5 - Em que acções mais práticas e benéficas para a humanidade o dinheiro gasto pelo IPCC deveria ser aplicado?

R. O IPCC, em si, não gasta muito dinheiro, mas recomenda pesquisas nas quais se gasta muito dinheiro. Segundo fontes diversas, já foram gastos mais de US$50 biliões com pesquisas, particularmente em desenvolvimento e simulações de modelos de clima e supercomputadores, sobre o aquecimento global nos últimos 15 anos. Pelo menos parte desse dinheiro poderia ter sido revertida para melhorar o IDH de muitos povos, particularmente na África, não excluído o Brasil. As acções não devem ser paternalistas ou assistencialistas e sim visar à transferência de tecnologia (adaptação) para que esses povos caminhem com suas próprias pernas. O velho ditado chinês: “Não dê o peixe, ensine a pescar”.

6 - Pesquisadores que não concordam com a tese do IPCC sofrem algum tipo de retaliação por parte de governos e/ou comunidade académica? Em caso positivo, como esse boicote ocorre?

R. Certamente!. Quem não é a favor do aquecimento global antropogénico sofre retaliações, tendo seus projectos não aprovados e seus artigos não aceites para publicação. Eu, particularmente, não me preocupo com tais boicotes, pois sou professor de universidade pública, concursado e, portanto, não podem me prejudicar directamente. Se não dão recursos para minhas pesquisas, continuo meu trabalho dentro das limitacções que me são impostas. E, estão prejudicando a Nação, a Sociedade e não a minha pessoa em particular.

7 - Como o senhor avalia a cobertura da imprensa brasileira e internacional sobre as alardeadas mudanças climáticas e outras questões ambientais com as quais a sociedade moderna se depara?

R. Infelizmente, a imprensa, nacional e estrangeira, dá uma ênfase exagerada ao aquecimento antropogénico do clima. Em particular, a nossa mídia, televisada e escrita, apenas repete o que vem de fora, sem fazer críticas. Talvez isso ocorra ou por falta de conhecimento, desinteresse dos jornalistas sobre o tema ou interesses dos controladores desses veículos de comunicação. A mídia está impondo uma anestesia, uma verdadeira lavagem cerebral aos cidadãos comuns, que ficam com a impressão de que o homem é responsável pela mudança no clima, o grande vilão. A mídia deveria ser “neutra”, ouvir opiniões contrárias, um veículo de informacções, e tentar apenas relatar o conhecimento científico comprovado e suas limitações.

Mas isso já aconteceu antes. No início dos anos 1940 se dizia que o mundo estava “fervendo e estava sufocante” com o aquecimento natural que ocorreu entre 1925-1946. E, no início dos anos 1970, ao contrário, se dizia que estávamos à beira de uma nova era glacial, devido ao resfriamento global que ocorreu entre 1947-1976. Em adição, exploram os eventos meteorológicos catastróficos que ocorrem como argumento de que o clima está mudando. Eventos severos sempre ocorreram no passado, muito antes de o CO2 chegar a essa concentração. A maior seca no Nordeste do Brasil ocorreu em 1877-1879 em que, segundo Euclides da Cunha em “os Sertões”, morreram meio milhão de nordestinos.

As 3 maiores cheias em Manaus, ocorreram em 1953, 1976 e 1922, quando o Pacífico estava frio. A cheia recorde de 2009 também ocorreu com o Pacífico frio e com a “temperatura média global” em declínio, constatação feita com dados de satélites nos últimos 10 anos. O furacão mais mortífero no EEUU, ocorreu em 1900, Galveston, Texas, que ceifou a vida de mais de 10 mil pessoas, uma época em que a densidade populacional era 6 vezes menor que a de hoje. É preciso não confundir intensidade dos fenómenos meteorológicos com vulnerabilidade da Sociedade, que aumenta com o aumento populacional. Em adição, a Sociedade tende a se aglomerar em grandes cidades e um fenómeno com a mesma intensidade torna-se mais catastrófico actualmente. O homem não tem capacidade de mudar o clima global. Ele tem grande capacidade de modificar seu entorno, seu próprio ambiente.

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