segunda-feira, 3 de outubro de 2011

0040 - HISTÓRIA (QUASE) SECRETA DO AQUECIMENTO GLOBAL



Por Geraldo Luís Lino [*]


Texto extraído do livro "A fraude do Aquecimento Global - Como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial" [**], com a autorização do autor, Geraldo Luís Lino.


As três décadas que se seguiram à II Guerra Mundial  representaram o período de mais rápida expansão do processo de desenvolvimento socioeconômico para toda a Humanidade. Tal  impulso foi proporcionado pela reconstrução econômica do pós-guerra, especialmente na Europa e no Japão, o processo de descolonização na  Ásia e na África e o arcabouço financeiro e monetário relativamente estável proporcionado pelo Sistema de Bretton Woods. Ao mesmo tempo, uma série de conquistas científico-tecnológicas contribuía para disseminar um intenso otimismo cultural: a “Revolução Verde” dos cultivos de alto rendimento, os avanços da medicina e da saúde pública, das telecomunicações, as perspectivas de uso pacífico da energia nuclear, a corrida espacial e outras.

Naquele momento, a palavra de ordem era industrialização, principalmente entre os países subdesenvolvidos. Em 1957, o comércio mundial de  produtos industrializados superou pela primeira vez o de produtos primários e alimentos. Entre 1953 e 1963, a participação dos países subdesenvolvidos na produção industrial mundial subiu de 6,5% para 9%, uma alta de quase 50%, com tendência ascendente. Foi nesse contexto que certos setores do Establishment  anglo-americano colocaram em marcha o movimento ambientalista internacional, cuja criação já vinha sendo preparada desde o pós-guerra imediato. 

Em seu livro Battling Wall Street: The  Kennedy Presidency (Combatendo Wall Street: a Presidência Kennedy), o  sociólogo estadunidense Donald Gibson descreve: “No final da década de 1950 e início da de 1960, uma antiga inclinação existente entre alguns membros da classe superior estava prestes a se tornar um assunto nacional. Esta inclinação ia redefinir as conquistas da ciência e da tecnologia como ações malignas que ameaçavam a natureza ou como fúteis tentativas de reduzir o sofrimento humano que, diziam, era o resultado da superpopulação. Essa tendência, em parte articulada como uma visão de mundo nos escritos de Thomas Malthus, toma o que podem ser preocupações razoáveis sobre temas como a qualidade do ar e da água e as reveste de uma ideologia profundamente hostil ao progresso econômico e à maioria dos seres humanos.” Desde as fases iniciais do movimento, o potencial do dióxido de carbono (CO2) como “vilão ambiental” não passou despercebido pelos seus mentores, com destaque para o magnata canadense Maurice Strong, cuja trajetória multifacetada é a demonstração viva do controle do ambientalismo pelo Establishment oligárquico. Já em 1972, como secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, ele apresentou uma agenda que antecipava com grande “clarividência” o que estava por vir. O relato é da sua compatriota, a competente jornalista investigativa Elaine Dewar, no livro "Cloak of Green: The Links Between Key Environmental Groups, Government and Big Business" ("Uma demão de verde: os laços entre grupos ambientais, governos e grandes negócios") [***]: “Quando a Conferência de Estocolmo foi instalada, em 1972, Strong advertiu urgentemente sobre o advento do aquecimento global, a devastação das florestas, a perda de biodiversidade, os oceanos poluídos e a bomba-relógio populacional. Ele sugeriu um imposto sobre a movimentação de cada barril de petróleo e o uso desses fundos para criar uma grande burocracia da ONU, para chamar a atenção sobre a poluição onde quer que ela se encontrasse. Na medida em que eu lia esse velho discurso, eu compreendia que ele quase poderia ser repetido na Cúpula do Rio... Um documento do Greenpeace, que circulou antes do Rio, alegava que a Conferência de Estocolmo fora um fracasso, por causa do que não fora discutido. Certamente, para alguns, as discussões limitadas foram um fracasso. Para outros interesses, elas constituíram um sucesso.”

Um dos desdobramentos da Conferência de Estocolmo foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), para o qual Strong foi nomeado o primeiro diretor-executivo. A partir do cargo, que ocupou até 1975, ele desempenhou um ativo papel na popularização das supostas ameaças para a atmosfera, representadas pelo uso de combustíveis fósseis e produtos químicos agressivos para a camada de ozônio – esta última, uma teoria alarmista que também dava os seus primeiros passos e seria crucial para a agenda ambientalista, como veremos adiante.

Além da Conferência de Estocolmo, o ano de 1972 presenciou duas outras importantes iniciativas da campanha catastrofista. O primeiro foi o lançamento do famigerado relatório do Clube de Roma, Limites ao crescimento, o qual introduziu as projeções computadorizadas na metodologia alarmista, prognosticando o esgotamento de vários recursos naturais nas décadas seguintes. O segundo foi a criação, em Laxemberg, Áustria, do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicada (IIASA), um empreendimento conjunto do Establishment ocidental e certos setores da Nomenklatura soviética, que perceberam na causa ambientalista o potencial para o estabelecimento de um “condomínio de poder” Leste-Oeste (a posterior adesão de Mikhail Gorbachov às causas “verdes” tem aí as suas raízes). Até hoje, o IIASA tem desempenhado um importante papel na promoção do aquecimento global antropogênico. 

Um marco decisivo da campanha contra o dióxido de carbono foi a conferência “A atmosfera: ameaçada e ameaçadora”, realizada em outubro de 1975, em Washington (EUA), promovida pelo Centro Internacional Fogarty para Estudos Avançados de Ciências da Saúde, órgão do governo estadunidense. Curiosamente, uma das organizadoras do evento foi a antropóloga Margaret Mead, uma veterana integrante de programas de “engenharia social” do aparato de inteligência do Establishment. As suas palavras não poderiam ser mais claras sobre os rumos da campanha ambientalista: “Estamos enfrentando um período em que a sociedade deve tomar decisões em escala planetária...
A menos que os povos do mundo possam começar a entender as conseqüências imensas e de longo prazo do que parecem ser pequenas escolhas imediatas  –  furar um poço, abrir uma estrada, construir um grande avião, fazer um teste nuclear, instalar um reator regenerador, liberar produtos químicos que se diluem na atmosfera ou descarregar resíduos concentrados no mar –, todo o planeta pode ficar em perigo.”

Em outro trecho, os anais da conferência registram: “A Dra. Mead enfatizou que a conferência foi baseada no pressuposto de que decisões políticas de tremendo alcance serão tomadas – com os cientistas provendo elementos de julgamento ou não. Não há meio de os cientistas evitarem afetar o processo de tomada de decisões em assuntos relacionados às suas disciplinas, mesmo se permanecerem publicamente em silêncio. Uma decisão dos formuladores de políticas no sentido de não agir na ausência de informação ou conhecimento científico é uma decisão política por si mesma e, para os cientistas, não há a possibilidade de inação, exceto a de deixarem de ser cientistas.”

Juntamente com o outro organizador do evento, o climatologista William Kellogg, Mead propôs a adoção de uma “Lei da Atmosfera” de âmbito mundial, a qual estabelecesse limites para a quantidade de emissões de dióxido de carbono que cada nação poderia produzir. Não por acaso, entre os participantes da  conferência, encontravam-se  outros dois climatologistas que, posteriormente, se destacariam na promoção do aquecimento, Stephen Schneider (ver aqui) e George Woodwell.

A conferência também serviu como plataforma de lançamento para a chamada Hipótese Gaia, um esdrúxulo coquetel de pseudociência e misticismo que considera a Terra um ser vivo de direito próprio, idealizado pelo biólogo inglês James Lovelock, que se tornaria um dos principais propagandistas do aquecimento global. Em seu último livro, A vingança de Gaia, lançado em 2006, Lovelock prognostica uma catástrofe planetária antes do final do século, causada por aumentos de temperatura de 5-8º C, os quais provocariam a expansão das áreas desérticas e a morte de bilhões de pessoas. Segundo ele, apenas na região ártica sobreviveriam alguns poucos casais em condições de acasalamento. (Embora afirmando discordar de alguns dos seus fundamentos, Stephen Schneider se tornou um dos principais propagandistas da Hipótese Gaia.)

O engajamento seletivo da comunidade científica na campanha do dióxido de carbono se deu crescentemente, ao longo da década de 1980, a partir de uma série de conferências internacionais promovidas pela burocracia ambiental das Nações Unidas (PNUMA  e  Organização Meteorológica Mundial), em cooperação com o IIASA: Villach, Áustria (1985); Villach e Bellaggio, Itália (1987); e Toronto, Canadá (1988). Em Toronto, pela primeira vez, a proposta de redução das emissões de CO2 recebeu uma meta numérica: um corte de 20% sobre as emissões daquele ano, até 2005. Dali saiu também a decisão de estabelecer um corpo tecnocrático especificamente para conduzir a campanha no meio científico, que viria a ser o IPCC, oficialmente criado no ano seguinte.


“Desenvolvimento sustentado”: Malthus de roupa nova


Um importante reforço para a campanha foi a ampla divulgação, em 1987, do relatório Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida pelo nome de sua principal coordenadora, a ex-primeira-ministra norueguesa Gro-Harlem Brundtland. O principal objetivo do documento era a introdução do conceito de “desenvolvimento sustentado”, que se tornaria a pedra de toque da ideologia ambientalista. Em sua essência, o conceito não passa de uma nova roupagem para as idéias de crescimento limitado popularizadas pelo Clube de Roma, com uma manifesta inclinação malthusiana. Veja-se, por exemplo, a seguinte passagem: “A cada ano, aumenta o número de seres humanos, mas permanece finita a quantidade de recursos naturais destinados ao sustento dessa população, à melhoria da qualidade de vida e à eliminação da pobreza generalizada.”


Outro trecho explicita os pendores em prol da “governança global”: “O conceito de soberania nacional foi basicamente alterado pela interdependência nos campos econômico, ambiental e de segurança. Os bens comuns a todos não podem ser geridos a partir de um centro nacional; o Estado-nação não basta quando se trata de lidar com ameaças a ecossistemas que pertencem a mais de um país. Só é possível lidar com ameaças à segurança ambiental através de administração conjunta e de processos e mecanismos multilaterais.”


Quanto aos problemas atmosféricos, o relatório afirma que “muito provavelmente, as ameaças do aquecimento global e da acidificação do meio ambiente descartam até mesmo uma duplicação do uso de energia baseado nas atuais combinações de fontes primárias. Portanto, qualquer nova era de crescimento econômico deverá ser menos intensiva em energia do que o crescimento no passado”. Para lidar com tais ameaças, a Comissão Brundtland recomendou a criação de uma agência ambiental global com poderes supranacionais, além de alertar para as possibilidades de futuros conflitos causados por disputas por recursos naturais ou contenciosos ambientais. Soa familiar?


Interregno: o “buraco” na camada de ozônio


Em paralelo  com a campanha “aquecimentista”, as hostes ambientalistas se empenhavam para transformar outro fenômeno natural em uma emergência global, atribuindo as variações das concentrações de ozônio na estratosfera à ação de produtos químicos como os clorofluorcarbonos (CFCs), halons, brometo de metila e outros, utilizados em dúzias de aplicações (elementos refrigerantes, propelentes de aerossóis, pesticidas etc.). Em um roteiro que se pretende replicar no caso das variações de temperatura, discussões que não deveriam extravasar do meio científico acabaram, por força do bem articulado lobby ambientalista, ganhando foros de problema planetário e se transformando em objeto de uma legislação de âmbito internacional e restritiva da fabricação e uso daqueles produtos.


A progressão foi extremamente rápida. As primeiras teorias sobre os supostos impactos humanos na camada de ozônio surgiram juntamente com o início da escalada ambientalista, na primeira metade da década de1970. Os suspeitos iniciais foram as emissões de óxido de nitrogênio das turbinas de jatos supersônicos de passageiros de vôo estratosférico, como o Concorde franco-britânico e o SST estadunidense (que nunca chegou a ser construído). Mas, logo, as acusações se transferiram para os CFCs e outros de compostos de cloro. Segundo a teoria, tais produtos, ao serem descartados, subiriam até a estratosfera  (mesmo sendo três a quatro vezes mais densos que o ar e, em geral, descartados em ambientes fechados e não-turbulentos) e, ali, sob a ação das intensas radiações ultravioleta, teriam as suas moléculas dissociadas, libertando os mortais átomos de cloro, que, por sua vez, se combinariam com
as moléculas de ozônio (O3) e as dissociariam. Em conseqüência da destruição do ozônio, haveria um aumento da intensidade da radiação ultravioleta na superfície terrestre, aumentando a incidência de cânceres de pele e outras enfermidades, tanto no homem como em outros seres vivos.


Com a antecipação peculiar, antes de encerrar a sua gestão no PNUMA, em 1975, Maurice Strong já havia determinado a criação de um grupo de estudos no órgão para lidar com a nova ameaça. Em 1985, a notícia de que um “buraco” na camada de ozônio havia sido detectado na Antártica causou furor mundial e acelerou os trabalhos para o estabelecimento de um acordo internacional para enfrentar o problema (poucos se deram ao trabalho de consultar os registros das pesquisas feitas na região durante o Ano Geofísico Internacional, em 1957-58, quando o fenômeno já havia sido registrado). No mesmo ano, realizou-se a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio. Dois anos depois, foi estabelecido o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Desgastam a Camada de Ozônio, que entrou em vigor em 1989, tendo experimentado quatro revisões desde então. Universalmente saudado como o mais bem-sucedido tratado ambiental já estabelecido, o Protocolo de Montreal determina datas-limite para o encerramento dos usos dos compostos de cloro aos quais foi atribuída a pecha de “assassinos do ozônio”. O alcance do acordo pode ser avaliado pelas cândidas declarações do principal negociador estadunidense do Protocolo de Montreal, o diplomata Richard Benedick, em seu livro  Ozone Diplomacy: New Directions in Safeguarding the Planet (Diplomacia do ozônio: novas direções na salvaguarda do planeta), publicado em 1991: “O Protocolo de Montreal... determinou significativas reduções no uso de vários produtos químicos extremamente úteis... Pela sua ação, os países signatários assinaram a sentença de morte para uma importante parte da indústria química internacional, com implicações de bilhões de dólares em investimentos e centenas de milhares de empregos em setores correlatos. O protocolo, simplesmente, não prescreveu limites para esses produtos com base na ‘melhor tecnologia disponível’, que teria sido a maneira tradicional de reconciliar objetivos ambientais com os interesses econômicos. Em vez disto, os negociadores estabeleceram datas-limite para a substituição de produtos que haviam se tornado sinônimos de padrões de vida modernos, ainda que as tecnologias requisitadas ainda não existissem.”


Ademais, ele admite: “Na época das negociações e da assinatura, não existia nenhuma evidência de problemas mensuráveis. Assim, ao contrário de acordos ambientais do passado, o tratado não foi uma resposta a acontecimentos ou eventos prejudiciais, mas uma ação preventiva em escala global.” 


É significativo que, antes de ser destacado para as negociações do Protocolo de Montreal, Benedick chefiava o Gabinete de População do Departamento de Estado, onde defendia a aplicação de draconianas políticas de controle demográfico nos países subdesenvolvidos. 


Os principais fabricantes de CFCs e similares, na América do Norte, Europa e Japão (cujas patentes estavam no fim), não foram afetados pelas restrições aos seus produtos, pois, prontamente, apresentaram uma nova família de substitutos, os hidrofluorcarbonos (HFCs). O problema, pelo menos para os usuários, é que tais produtos não só custavam 20-30 vezes mais que os CFCs, como também obrigariam a uma total substituição dos equipamentos existentes, pois eram incompatíveis com os compressores dos refrigeradores em uso. Além disso, ironicamente, os HFCs foram logo apontados como poderosos gases de efeito estufa, 10 mil vezes mais eficientes que o CO2, o que ensejou um adendo ao Protocolo de Montreal, determinando que deixem de ser
usados até 2030 (e, possivelmente, substituídos por novos produtos ainda mais caros).


Por outro lado, o banimento dos CFCs nos países industrializados motivou o surgimento de um ativo comércio ilegal oriundo dos fabricantes sediados nos países em desenvolvimento, que receberam um prazo maior para a adaptação das suas indústrias (além de recursos de um  fundo de compensação estabelecido pelo protocolo). Nos EUA, a estrutura policial criada para reprimir esse contrabando se tornou inferior apenas à estabelecida para o combate ao narcotráfico, o que denota as conseqüências do irracionalismo ambientalista, conseguindo a façanha de transformar uma das substâncias mais úteis e versáteis já inventadas em objeto de repressão policial.


E quanto ao “buraco” na camada de ozônio? Na verdade, assim como ocorre com a maioria dos fenômenos atmosféricos, as concentrações de ozônio na estratosfera são extremamente variáveis e dependentes de fatores totalmente alheios às ações humanas – no caso, intensidade das radiações solares e cósmicas, latitude, estação do ano, erupções vulcânicas etc. O mal denominado “buraco” não passa de uma rarefação das concentrações do gás abaixo de um certo nível, fenômeno que já era registrado na região subártica da Noruega desde a década de 1920, antes mesmo de os CFCs, halons e congêneres serem inventados. Na Antártica, quando tais variações extremas foram constatadas, durante o Ano Geofísico Internacional, os CFCs apenas começavam a entrar em uso  comercial (os halons, usados em extintores de incêndio, só foram inventados na década seguinte). Não obstante, como já advertia Margaret Mead, em 1975, e  corroborado por Richard Benedick, “decisões políticas de tremendo alcance serão tomadas” – independentemente dos seus fundamentos científicos. Como uma espécie de coroamento da campanha do ozônio, o Prêmio Nobel de Química de  1995 foi conferido ao estadunidense F. Sherwood Rowland, seu pupilo mexicano-estadunidense Mario Molina e o holandês Paul Crutzen, autores da teoria que serviu de pretexto para a investida contra os compostos de cloro. Mais tarde, o versátil Molina viria a ser um dos redatores do “Resumo” de 2007 do IPCC. Seu mentor Rowland, por sua vez, juntamente com outros 40 cientistas (?) e ativistas ambientais de 20 países, foi signatário de um dos mais delirantes manifestos ambientalistas já produzidos, a Declaração de Morelia (1991), que afirma em um de seus trechos: “Se a metade final do século XX ficou marcada por movimentos de libertação humana, a década final do segundo milênio será caracterizada por movimentos de libertação entre espécies, de modo que algum dia possamos atingir uma igualdade genuína entre todas as coisas vivas.”

O caminho para Kyoto e além


A facilidade com que o Protocolo de Montreal foi aprovado emprestou um grande impulso à campanha “aquecimentista”, que entrou na década de 1990 a pleno vapor, sempre com o nosso velho conhecido Maurice Strong à frente. Outra vez, a grande oportunidade foi proporcionada pelo aparato ambientalista da ONU, onde, dividindo o tempo com os seus múltiplos afazeres privados, Strong ocupava o posto de subsecretário geral, no qual já havia sido um dos mentores dos trabalhos da Comissão Brundtland. O palco foi a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como Cúpula da Terra ou, simplesmente, Rio-92, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. Além da Convenção sobre Diversidade Biológica e da Agenda 21, um enorme conjunto de diretrizes destinado a introduzir o fator ambiental em praticamente todos os ramos de atividades humanas, a conferência resultou na aprovação da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas, que, supervisionada diretamente por Strong, seria o embrião do futuro Protocolo de Kyoto. 


Uma vez mais, ouçamos Elaine Dewar: “Propagandeada como A Maior Cúpula do Mundo, a conferência do Rio era publicamente descrita como uma negociação global para reconciliar a necessidade de proteção ambiental com a necessidade de crescimento econômico. Os bem informados entendiam que havia  outros objetivos, bem mais  profundos. Estes envolviam a transferência de poderes regulamentadores nacionais para vastas autoridades regionais; a abertura de todas as economias nacionais fechadas a interesses multinacionais; o reforço de estruturas de tomada de decisões muito acima e muito abaixo do alcance de democracias nacionais recém-estabelecidas; e, acima de tudo, a integração dos impérios soviético e chinês no sistema de mercado global. Eu não havia ouvido ninguém usar qualquer nome para esta agenda bastante grande, de modo que, mais tarde, eu mesmo a batizei – a Agenda de Governança Global.” 


Em outra passagem, a jornalista, que dedicou a Strong dois capítulos inteiros de seu livro, afirma: “Ao final de 1991, eu havia me tornado altamente cética sobre os motivos dos participantes do circuito (ambientalista). Eu havia chegado à conclusão de que a poluição transfronteiriça estava sendo usada como um instrumento de mercado para vender aos que ainda tinham dúvidas a necessidade de adoção de níveis de governança regionais e globais. O ‘pense globalmente, aja localmente’ era apenas outro slogan propagandístico. O público estava sendo persuadido a aceitar a proteção ambiental baseada num modelo de mercado: regulamentações seriam substituídas por leis que permitiriam a comercialização de débitos e créditos de poluição. Se os associados de Strong fossem bem sucedidos, em breve, os créditos e débitos de poluição seriam comercializados globalmente como pernis de porco e derivativos financeiros. Por volta do ano 2000, haveria poucas entidades nacionais independentes capazes de defender as comunidades locais dos leviatãs internacionais. As comunidades locais  competiriam entre si pelos favores dos grandes interesses. Aqueles de nós que vivêssemos nas  periferias brutais dessas novas potências mundiais se veriam agradecidos por comercializar com qualquer um, a qualquer preço.”


Em uma entrevista feita em 1991, um ano antes da conferência do Rio, o próprio Strong disse a Dewar: “Eu tenho dito durante anos que o mundo precisa de um sistema mundial de governança. Cada tema deveria ser trabalhado no nível em que possa ser trabalhado com efetividade... O (problema do) ozônio vem de refrigerantes. Você tem que ter um acordo global para lidar com isso, mas as ações têm que ser tomadas nacionalmente... Eventualmente, a ONU vai precisar de um acesso direto a um nível global de sistemas, não o mais poderoso, mas crescente... Nós recomendamos que haja uma espécie de imposto para lidar com as mudanças climáticas. A ONU pode não aplicá-lo. A maneira mais plausível é um governo concordar em consultas para impor o imposto nacionalmente, em uma fórmula acertada em relação ao PIB, e colocar uma parte dele em um fundo administrado pela ONU.”


No mesmo ano, Strong foi um dos idealizadores da Iniciativa de Estocolmo sobre Segurança e Governança Global, que, em abril, reuniu na capital sueca 30 personalidades políticas internacionais para elaborar esse emblemático manifesto, que ressalta a relevância dos temas ambientais para a agenda do “governo mundial”. Entre as suas propostas, destacam-se: 


“– a elaboração de um arranjo de aplicação de lei global... enfocando o papel de sanções e medidas militares; 


“– que sejam impostas taxas sobre a emissão de poluentes que afetem o meio ambiente global, em particular as emissões de dióxido de carbono da queima de combustíveis fósseis; 


“– um diálogo internacional sobre energia, que promova um uso mais eficiente dos recursos energéticos mundiais, em particular, o uso de recursos energéticos alternativos e renováveis, como a energia solar;


“– que as Nações Unidas sejam encorajadas a colocar os assuntos ambientais ao nível mais alto, em todos os foros apropriados; 


“– que as nações decidam fazer da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (no Brasil) um marco para o desenvolvimento sustentado; 


“– que líderes nacionais e culturais mobilizem o compromisso político e os meios técnicos para efetivar um avanço na limitação do crescimento populacional.”


Aí estão, sem disfarce, as intenções dessa casta de “globalistas” que pretende suplantar os Estados nacionais soberanos e impor ao mundo uma ordem malthusiana de pesadelo. Além de Strong, assinaram o documento: o então primeiro-ministro sueco Ingvar Carlsson; a novamente primeira- ministra norueguesa Gro-Harlem Brundtland; o  ex-chanceler  alemão Willy Brandt; o ex-primeiro-ministro britânico Edward Heath; o ex-chanceler soviético Eduard Shevardnadze; o então senador Fernando Henrique Cardoso; e outros.


Para promover as diretrizes da Iniciativa de Estocolmo, foi criada a Comissão de Governança Global, em cujo conselho diretor Strong permaneceu até 1996. Assim, não constituiu qualquer surpresa que Strong tenha sido o principal arquiteto do Protocolo de Kyoto, no qual as suas antigas propostas para as restrições ao uso de combustíveis fósseis via mercados foram formalmente introduzidas na agenda das relações internacionais. O tratado foi negociado em dezembro de 1997 e entrou em vigor em fevereiro de 2005, após a ratificação da Federação Russa, com a qual foi preenchida a cláusula que determinava a necessidade de os signatários responderem por pelo menos 55% das emissões anuais de gases de efeito estufa na atmosfera (além do dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, hexafluoreto de enxofre, hidrofluorcarbonos e perfluocarbonos). Como meta geral para os países industrializados, foi prevista uma redução geral de 5,2% das emissões até 2010, sobre os níveis de 1990. 


Entretanto, as grandes dificuldades que algumas das principais economias industrializadas estão encontrando para cumprir as metas estabelecidas, além da exclusão dos EUA (que sozinhos respondem por mais de um quinto das emissões globais) e da Austrália, que não ratificaram o acordo, estão preocupando os “aquecimentistas”, que já trabalham para o cenário pós-Kyoto, em função de que as metas do tratado deverão ser revistas em 2012. Para uma sondagem das suas intenções, nada melhor do que recorrer ao próprio “Mister Carbono”, Maurice Strong. Em um artigo publicado no jornal The Globe and Mail de Toronto (“Uma super-agência?”), em 7 de março de 2007,além de reclamar da crescente resistência às metas de Kyoto no Canadá, ele fala francamente sobre o seu papel na campanha anticarbono e faz uma audaciosa proposta para o futuro. Vale a pena transcrevê-lo em certa extensão: 
   
“A pequenez com a qual a presente controvérsia sobre a resposta do Canadá às mudanças climáticas está sendo tratada não é nada para se orgulhar.
  
 “Como alguém cujo papel na colocação do tema das mudanças climáticas na agenda pública está sendo alvo de críticas, me apresso em confessá-lo. Como o primeiro diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, eu convoquei uma reunião de especialistas em mudanças climáticas há mais de 30 anos atrás. Em 1992, eu encabecei a Cúpula da Terra, que produziu a Convenção sobre Mudanças Climáticas, e estive envolvido em Kyoto, quando foi acertado o contencioso protocolo das metas. (...)
   
“Kyoto foi uma primeira etapa essencial, mas bastante modesta, para se lidar com essa crise, mas ela foi severamente enfraquecida pela retirada dos EUA, a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa, e pela retirada de outros, inclusive, lamentavelmente,o Canadá. (...)
   
“Seria ilusório pensar que o Canadá pode ir adiante sozinho. De fato, o tipo de ações radicais agora requeridas só poderá ser efetivo se elas forem tomadas por meio de uma cooperação internacional numa escala sem precedentes na nossa experiência. Não devemos nos deixar iludir pelos negadores que defendem que a ação deve esperar pela certeza científica, que será uma carga
muito grande para a economia, o que significa os seus próprios interesses especiais (sic). (...)
   
“Não existe uma resposta rápida ou fácil. Entretanto, os meios para efetuar as mudanças fundamentais necessárias para colocar as emissões de gases de efeito estufa em níveis seguros envolvem tecnologias que já estão disponíveis ou ao alcance. Mais e mais corporações têm demonstrado que, longe de ser uma ameaça para a economia, essas medidas proporcionam uma nova geração de oportunidades econômicas... O que se necessitam são mudanças na nossa cultura, nas nossas atitudes e no sistema de incentivos e penalidades às quais os indivíduos e corporações respondem. (...)


“Já está claro que o Canadá, como vários outros países, não cumprirá as suas metas de Kyoto. Isto não pode ser usado como pretexto para abandonar Kyoto. Com todas as suas imperfeições, é muito melhor usá-lo como base para negociar um novo acordo quando as metas existentes expirarem, em 2012. É claro que a China, Índia e outros países em rápido desenvolvimento, que agora respondem pela maioria dos aumentos das emissões de gases de efeito estufa, precisarão participar. (...)
   
“Eu proponho que seja estabelecido um novo tipo de   comissão – uma Comissão Climática Mundial. Ela seria de natureza permanente, ao  contrário das comissões anteriores que tratavam de assuntos mais limitados e eram desfeitas depois de apresentar os seus relatórios.
   
“A comissão seria delegada pelas Nações Unidas e seria autônoma em suas operações. Ela se basearia e reforçaria os esforços e delegações de outras organizações, especialmente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, como fonte primária de assessoria científica, o PNUMA, a Organização Meteorológica Mundial e o secretariado da ONU que atende à Convenção sobre Mudanças Climáticas. Ela procuraria e responderia à assessoria de outras organizações e atores, proporcionando os canais por meio dos quais estes poderiam contribuir para o tipo de ações concertadas e enfocadas que são essenciais e para as quais nenhum órgão individual é hoje responsável. Ela monitoraria todas as atividades envolvendo as mudanças climáticas e se reportaria aos governos e à ONU, avaliando os progressos e os desempenhos de todos os atores, provendo recomendações específicas que, espera-se, tenham uma influência significativa na opinião pública e nas ações de governos, indústria e outros.”


Se o leitor ficou com uma impressão de dejà vu, não está equivocado. Portanto, preparemo-nos para os próximos capítulos.


Geraldo Luís Lino, 2009.


[*] Geraldo Luís Lino é Geólogo, Diretor do Movimento de Solidariedade Ibero-Americana, ex-consultor ambiental e autor do livro "A Fraude do Aquecimento Global : Como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial."
[**] - "A Fraude do Aquecimento Global : Como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial". Autor: Geraldo Luís Lino. Editora Capax Dei (ver aqui).
[***] - "Uma demão de verde: os laços entre grupos ambientais, governos e grandes negócios". Autora: Elaine Dewar. Editora Capax Dei (ver aqui).

Um comentário:

  1. gostei o brasil tem que a cada dia ser informado que esse tal aquecimento global e realmente uma fraude

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